A dor pélvica crônica é uma queixa frequente no consultório ginecológico — e, muitas vezes, ela vem acompanhada de um longo caminho de dúvidas, frustrações e tentativas de explicações simplificadas. Quando falamos de endometriose, é importante entender que ela pode, sim, ser uma causa relevante dessa dor — mas raramente é a única.
Muitas pacientes convivem com desconforto desde cedo, e, sem um diagnóstico adequado, acabam iniciando o uso de anticoncepcionais desde a adolescência, como uma forma de “silenciar” a dor. Às vezes, passam anos sem saber que há uma causa por trás daquele incômodo — e que ela merece atenção.
O primeiro passo para uma investigação cuidadosa é ouvir a paciente com calma. A história clínica detalhada — quando a dor começou, se piora no período menstrual, se está associada à relação sexual ou ao funcionamento intestinal — é o que direciona toda a avaliação.
Em seguida, os exames de imagem ganham um papel importante. Mas aqui é essencial ressaltar: não é qualquer exame, nem qualquer profissional. Quando suspeitamos de endometriose, é fundamental contar com equipes especializadas, que tenham familiaridade com os sinais da doença. Um ultrassom feito por alguém habituado a investigar endometriose pode fazer toda a diferença — e mudar completamente a condução do caso.
Além disso, é muito comum que outras condições coexistam. Muitas pacientes com endometriose também apresentam hipertonia da musculatura do assoalho pélvico — uma causa importante (e muitas vezes negligenciada) de dor na relação sexual, sensação de peso pélvico e desconforto ao urinar ou evacuar. Esses sintomas precisam ser reconhecidos e tratados com uma abordagem integrada, que envolva fisioterapia pélvica e acompanhamento multidisciplinar.
Por isso, um diagnóstico correto e completo não é apenas um alívio imediato. Ele também tem impacto direto no futuro da paciente: na qualidade de vida, na saúde reprodutiva e na forma como ela se relaciona com o próprio corpo.
Se você sente que a sua dor não está sendo ouvida ou compreendida, talvez seja hora de buscar uma nova escuta. Seu corpo merece ser investigado com cuidado — e tratado com respeito.